Sabe-se. Sabe-se quando um restaurante passa de normal a extraordinário. Sente-se, saboreia-se, percebe-se. É algo imaterial, uma daquelas sensações que não se explicam pelas normas da lógica. É uma espécie de corrente de energia que une o trabalho do Chef e da sua equipa em cozinha, o serviço cronometrado dos empregados de mesa e do chefe de sala, a atenção especializada do Sommelier, conjuga-se tudo perfeitamente, como uma grande máquina bem oleada. E o que produz esta máquina? Puro prazer gastronómico.
Talvez já conheça o Emo Gourmet do tempo do Hotel Tivoli Victoria, mas com a entrada do grupo Anantara, o restaurante ganhou nova vida semeando ventos de mudança. Sente-se o desejo por fazer melhor e de se superarem gastronomicamente. As personagens que protagonizam esta história são o Sommelier António Lopes e o Chef David Luísa, mas toda a equipa está hipermotivada e percebe-se que ali vai passar, mais cedo ou mais tarde, algo grande.
Mas deixem-me, antes de prosseguir, levar-vos de passeio pelo espaço do restaurante. Fica na mezannine do Anantara Hotel Resort em Vilamoura. Para lá chegar temos que atravessar o lobby e a sua “árvore da vida” onde a cada entardecer se canta o fado em tributo à alma lusitana. Subindo ao primeiro andar, adentramo-nos num restaurante decorado em cores escuras e sóbrias, que lembra, por momentos, o cenário da série Mad Men. Paredes e madeiras escuras em materiais nobres, vidro, mosaicos polidos, móveis e candeeiros de desenho, sofás em couro escuro, uma cortina de ferro e os alumínios dourados das grandes janelas dão um toque final, minimalista, mas com aquele ar neo-retro. O restaurante tem um terraço aberto às estonteantes vistas dos campos de golfe de Vilamoura, um dos meus lugares favoritos, para ver o sol a descer devagarinho no horizonte.
Atende-nos António Lopes, sommelier com vários prémios nacionais e internacionais, que já conhecíamos do Gusto, no Hotel Conrad Algarve. Lopes entrou para o Anantara para ocupar a posição de “Wine Guru” e oferecer um serviço que vai para além da descrição de Sommelier, assumindo-se como um dos melhores especialistas em vinhos do grupo, um híbrido entre o enólogo, o sommelier, o contador de estórias e o investigador. Para essa noite, e conhecendo de antemão as nossas preferências, recomendou-nos um Soalheiro Branco Terramater, 2016, ecológico, de aspeto turvo no copo, mas com uma frescura inesquecível no paladar.
Robalo Corado. [Foto: Pedro Melo/Caras]
Lombo de Vitela Assado. [Foto: Pedro Melo/Caras]
Na carta aguardam várias propostas do receituário português, reinterpretadas à luz das técnicas contemporâneas. As especialidades do Chef David Luísa (com reserva prévia) incluem um “Polvo de Sta. Luzia à Lagareiro”, um “Robalo de Sagres em Crosta de Sal e Coentros”, umas “Bochechas de Porco Preto Alentejano” ou um “Jarrete de Vitela assado lentamente”. Como não tínhamos feito reserva, cingimo-nos aos pratos de carta e provámos um “Magret de Pato Laqué-Confit” servido com a sua raiz de aipo, pepino, iogurte, caju e pão de cabeça em noisette e um “Robalo Corado” com puré de ervilhas, azeite de trufas, cogumelos shitake, vinagre de arroz e coentros. Ambos irrepreensíveis.
Ficaram ainda por provar o “lombo de bacalhau assado”, os “medalhões de tamboril” ou o “pregado braseado” e no capítulo das carnes, o “lombo de vitela assado”, o “Carré de borrego”, o “Bife à Portuguesa” ou ainda, os “Raviolis de ervilha trufados”… mas temos que deixar algo para as próximas visitas.
Tudo Bons Rapazes. Chef Luis Cristina, Wine Guru António Lopes e Chef David Luísa.
[Foto: Pedro Melo/Caras]
As entradas também piscam um olho à tradição portuguesa, encontrando-se um belo “ceviche de carapau”, um “carolino de bivalves” que está uma delícia, as perfeitas “vieiras braseadas”, os “carabineiros”, o “presunto pata negra e melão” e o “requeijão de ovelha, servido com escabeche de pimentos com sementes, agrião, pão rústico frito e pevides”.
Como pode apreciar, não estamos perante uma carta pretensiosa ou artificial. O Chef David Luísa soube escolher a dedo, pratos que representam o espírito da cozinha portuguesa. Estamos, não se esqueça, num hotel com clientes internacionais e cujo paladar pode não coincidir com os compassos portugueses, porém, parece-me nobre e corajoso, que num restaurante gourmet se aposte pela cozinha portuguesa e se elevem as receitas mais tradicionais, a composições atuais, enriquecidas com as técnicas modernas, mas mantendo a essência do sabor. Sim, quando provei o requeijão de ovelha, transportei-me no tempo e no espaço, à humilde casa da minha avó Cristiana, no sopé da Serra da Estrela. E apenas uma colherada do arroz de bivalves, despertou a memória do grandioso arroz que a minha mãe Luísa cozinhava sempre que vínhamos de férias até ao Algarve.
Mais que um Sommelier, o Wine Guru António Lopes. [Foto: Pedro Melo/Caras]
Pudim de Abade de Priscos. [Foto: Pedro Melo/Caras]
Vieiras. [Foto: Pedro Melo/Caras]
O Chef David Luísa é natural do Alentejo e antes de chegar a Chef do Emo Gourmet, formou-se na escola profissional de Odemira e passou por diversos estágios profissionais e cargos em cozinha em resorts como o Vila Vita Parc Resort, o Hotel Grande Real Santa Eulália, o CS Hotels and Resorts Algarve e o Hotel Tivoli Victória, antes deste ser adquirido pelo Anantara Hotels & Resorts.
As sobremesas? Bem, aí há diversidade suficiente para agradar a Gregos e Troianos. Que tal um “Creme de Laranja, merengue e chá príncipe”, uma clássica “Bica e pastel de nata, desconstruída com creme de pastel, massa crocante, café e canela”, “Pudim de Abade de Priscos, aromatizado com vinho do Porto e salada de citrinos”, um “wave” com chocolate Madagáscar e avelã, Queijo de Azeitão com favo de mel, frutos vermelhos e tostas e ainda uma seleção de Queijos nacionais. Escolhemos uma composição “Chocolate Kumabo” com bolo árvore e cerejas. Reconheço que esta é a sobremesa menos lusitana da carta, mas chamou-me a atenção por causa do bolo árvore, uma especialidade alemã, que exige uma complicada técnica de elaboração. O bolo é composto por camadas finíssimas de massa assadas até torrarem ligeiramente na parte superior, e de novo recobertas por novas camadas. A inserção do baumkuchen (bolo árvore) na carta, tem a ver com o percurso profissional do Chef, que trabalhou anteriormente como Chef de Partida no resort Vila Vita Parc e aí aprendeu alguns dos segredos da gastronomia alemã.
Chocolate Kumabo – Foto: Avenida Chique
A apresentação dos pratos fala por si: é elegante mas sem descurar porções que satisfaçam o apetite. Recomendo claramente uma visita ao Emo Gourmet para o desfrute de uma noite gastronómica especial, com serviço atento e profissional, passeio guiado por mais de 350 vinhos e uma carta genuinamente portuguesa. Ah! E chegue cedo, porque o pôr do sol sobre o campo de golfe Oceanico Victoria com o Atlântico como pano de fundo, é um postal algarvio imperdível.
Para mais informação e reservas, por favor, consulte:
Anantara Vilamoura Algarve
Avenida dos Descobrimentos, nº0
8125-309 Vilamoura, Algarve
Página Web: http://vilamoura.anantara.pt/emo-restaurant/
Telefone: +351 289 317 000
E-mail: vilamoura@anantara.com
Créditos Fotográficos: Pedro Melo – Caras / Anantara / Algarvist
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