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Foodtours – Eating Algarve – Passeio guiado pelas gentes e gastronomia de Olhão – Experiência a não perder!

Foodtours – Eating Algarve – Passeio guiado pelas gentes e gastronomia de Olhão – Experiência a não perder
Chamemos-lhe “food tour”, excursão gastronómica, passeio guiado ou experiência sensorial… todas essas denominações são insuficientes para designar a atividade gastro-cultural em que participei na semana passada e me deixou completamente deliciada. A jovem empresa Eating Algarve Food Tours convidou-me a experimentar o “Passeio na Ria”, um tour guiado pelos mercados, bares e restaurantes mais emblemáticos da cidade de Olhão. Quatro horas e meia de passeio sensorial entre as gentes, ruas, casas, tradições e lendas de uma cidade labiríntica, com diferentes tipos de arquitetura, património gastronómico genuíno e uma personalidade muito vincada. Fui com o olhar de turista e (re)descobri a cidade e as ruas por onde passei milhares de vezes. Contaram-me lendas e estórias sobre os recantos, as fachadas, os sabores e as tradições olhanenses. Aprendi muito e comi ainda mais. Vim de lá encantada e conto-lhe neste post, todos os detalhes desta experiência imperdível…
Eating Algarve Food Tours

Joana, a guia da Eating Algarve Food Tours no Mercado de Olhão

O encontro estava marcado às 10:00 junto ao Coreto dos Jardins dos Pescadores, em Olhão. Nesta manhã de Setembro, o termómetro ainda ronda os 28 graus e anda um perfume a maresia e protetor solar a rodopiar no ar. Joana Cabrita Martins acompanhada de duas turistas americanas, já está à minha espera. Enverga um polo branco com o logótipo da Algarve Eating Food Tours e recebe-me com um sorriso afável.
Depois de uma breve apresentação, começa a experiência “Tour da Ria”, um passeio de quatro horas e meia pela gastronomia, cultura e património de Olhão. Esta não foi a minha primeira “food tour”, mas sim a primeira em Portugal. Temos o péssimo hábito (eu incluída) de só participar nestas coisas quando andamos lá por fora, quando aqui, em Portugal ainda temos tanto por descobrir…
A experiência foi memorável e fez-me olhar para as nossas heranças culinárias, arquitectónicas e culturais com o “olhar” admirado de turista. Esse olhar que John Urry tão bem designava como “the gaze of the other”, que redescobre o conhecido como algo extraordinário, recupera a autenticidade da terra e do mar, revela-nos os lugares habituais como algo exótico e de novo atraente. Com as visitas guiadas pelas cidades algarvias – atualmente realizam passeios em Silves, Olhão e Faro – a jovem empresa Eating Algarve Food Tours, ajuda-nos a colocar esse filtro à realidade. Impele-nos à descoberta do Outro, do Mundo, do Conhecido que afinal, ainda é… um grande Desconhecido.
Como boa amante da mesa, que me convidem a passear pelos mercados e a descobrir restaurantes típicos é como dar brinquedos pelo Natal a uma criança. Parti para este passeio com imensas expetativas e voltei com a câmara cheia de fotografias, o estômago feliz e a alma repleta de novas memórias e impressões.
Joana leva-nos até à orla marítima, junto ao mercado de Olhão. Nessa manhã, as águas da Ria eram um espelho irradiante de luz e paz. Olhão significa “olho de água” e a zona do Jardim dos Pescadores e do Mercado de Olhão foi erigida sobre terra ganhada ao mar, explicou. Em concreto, aprendi que o edifício do Mercado de Olhão foi construído em 1886 sobre 88 pilares que assentam em areia. Primeiro, erigiram o edifício da ala oeste dedicado à venda de peixes, crustáceos e moluscos e só alguns anos mais tarde, ergueram a ala este destinada às frutas e legumes.
Tal como outrora, atualmente, o Mercado de Olhão continua a ser o coração da cidade. Este centro nevrálgico é ponto de encontro diário para centenas de habitantes, mas também dos turistas que se maravilham com as cores, sabores e perfumes autênticos dos produtos da terra e do mar. As paredes em tijolo vermelho e as cúpulas em ferro esverdeado, entrecortam o azul intenso do céu algarvio e tornam o Mercado de Olhão no ex-libris da região.

Uma Bifana no Benvindo Assis

Joana leva-nos à primeira paragem gastronómica do dia, a visita a um bar típico situado no exterior do mercado de Peixe. Um bar de homens robustos e pescadores que àquela hora matinal, já fizeram grande parte da jornada de trabalho. No “Benvindo Assis” come-se a melhor bifana à portuguesa da cidade. O papo seco tostadinho abriga finas fatias de carne de porco marinada em vinha de alhos, colorau, louro e piri-piri. Basta uma dentada a esta poesia das noites de festa (ai que saudades das Queima das Fitas), que as imagens da nossa juventude intrépida rebobinam-se no olhar.
As bifanas do “Benvindo Assis” alimentam a alma e o apetite. O cozinheiro Benvindo diz-me que na receita da sua bifana há ainda um grande segredo… eu não sei qual é, fiz-lhe várias perguntas, mas a todas respondeu com ar de pitonisa… Joana, a guia da Algarve Tours não provou bocado. Desunhou-se a contar a história desta sanduiche tão portuguesa às turistas americanas que desfrutavam de cada dentada como se não comessem há anos. Um pescador deve ter-me visto com ar de quem precisava um trago e ofereceu-me um golo da sua Sagres (sim, essa que aparece na fotografia). Aqui neste bar algarvio feito de homens ásperos, uma vez estabelecidos os laços mínimos de confiança, a conversa é meiga, honesta e mais humana do que em qualquer café fino da capital.
O Bar do Benvindo Assis no Mercado de Olhão, talvez a melhor Bifana de TODO o Algarve
Mestre João – o da Venda do Peixe
Caminhamos, agora, entre peixes de olho arregalado, búzios, navalhas, litões secos, postas de atum ensanguentado, ovas de polvo, biqueirões escalados, polvos ainda com a espuma do mar agarrada aos tentáculos. Joana vai-nos guiando pela agradável confusão de cores e aromas do mercado, apresenta-nos aos vendedores e relata os nomes dos peixes, a sua proveniência e para que servem.
Conhecemos ao Mestre João – dos postos de venda 46, 47 e 48 – que nos mostra um peixe-aranha e recomenda fritá-lo em azeite depois de panado em polme de amêndoa. Já foi pescador, cozinheiro em alto-mar e agora é vendedor de peixe no Mercado num negócio familiar, Mestre João, parece ter saído da novel de Raúl Brandão. Mais à frente, provamos a moxama, de atum preservado em sal e de ovas de polvo seco.
Nestes postos de venda encontra-se uma diversidade de peixe, moluscos e crustáceos capaz de inspirar a qualquer pessoa a tornar-se cozinheiro. A frescura incita-nos à compra e ao imenso desfrute destas bondade marinhas. E como Brandão pego num búzio e escuto, estonteada, a “grande voz do mar”…
Mestre João, pescador e peixeiro no Mercado de Olhão
A incrível variedade de peixe seco e fresco, mariscos e moluscos no Mercado de Olhão
Caíque do Bom Sucesso: símbolo de heróis e destemidos
Saímos por momentos do mercado, agora Joana faz-nos aproximar da orla marítima. Ali, entre os dois edifícios do mercado, está ancorada uma réplica do Caíque do Bom Sucesso, um barco que simboliza o heroísmo do povo olhanense. Devo confessar que tinha passado milhares de vezes por ali e nunca tinha prestado atenção à embarcação. Joana contou-me que este barco (na sua versão original) foi utilizado por um grupo de pescadores de Olhão para navegar até ao Brasil para avisar o rei D. João, que tinham expulsado as tropas de Napoleão.
Impressiona este barquinho frágil, usado pelos nossos valorosos homens, em 1808, para empreender uma empresa de defesa do nosso país. E se não fosse a “Eating Algarve Food Tours” continuaria a passar por ali, sem apreciar o simbolismo daquela embarcação. Quando voltou, “el rey” D. João concedeu o estatuto de Vila a Olhão em reconhecimento dos atos heróicos das suas gentes.
Caíque do Bom Sucesso
Réplica do Caíque do Bom Sucesso, símbolo de rebeldia e heroísmo olhanense
Terra fértil onde tudo se dá e tudo cresce
Ainda empolgada com este episódio da História de Portugal, adentramo-nos na outra ala do mercado, a zona de venda de legumes, verduras, frutos secos e mel. Aí, provamos numa banca um naco de batata doce cozida, noutra bebemos um sumo de laranja e beterraba e debicamos uma estrela de figo e amêndoa, todos elementos do património gastronómico local.
O Algarve é terra fértil onde tudo se dá e tudo cresce. Dá gosto ver as alfaces, os pimentos, os abacates, as cenouras ainda com um resquício de terra fresca, os tomates rechonchudos, as papaias e as mangas, as imensas variedades de azeitonas, os figos a escorrer mel… é poesia que nos entontece e apaixona. Joana, talvez intuindo a minha embriaguez sensorial leva-me de aí, a uma nova aventura, pelo Jardim do Patrão Joaquim Lopes, até à antiga fábrica de conservas de peixe.
Portugalidade Enlatada
Em Olhão, a indústria conserveira estabeleceu-se a princípios do Séc. XVIII e ainda hoje encontramos marcas de conserva que passaram de geração em geração. Visitámos a loja-museu da conserveira Manná, com duzentos anos de história, na avenida principal de Olhão. Uma das bisnetas do fundador, Sara, hoje encarregue da comunicação da marca estava à nossa espera com uma degustação de especialidades elaboradas com peixe em conserva.
Serviram-nos um “falso” sushi de atum, uma espécie de empadão frio de arroz cortado em quadradinhos, recheado com atum e decorado com maionese, raspas de lima, ovo de codorniz e pó de beterraba. As turistas americanas louvaram este miminho, mas eu preferi a prova de cavala em azeite, de sabor mais genuíno, que estava, simplesmente divinal.
Na loja podem-se encontrar mais de 30 variedades de patés e conserva de peixe Manná e da marca vintage Good Boy. Nas prateleiras acumula-se uma profusão de latas e latinhas de todas as cores, recheadas com atum em óleo, em azeite, ou natural, lulas de caldeirada, chaputa, barriga de atum, ovas de cavala, sardinhas, carapau, biqueirão e outras maravilhas marinas da Ria Formosa…
Degustação de conservas, a importante indústria de conserva de peixe em Olhão
Os Murais da cidade
Já por aqui tinha falado da importância e beleza dos graffitis e da arte urbana em Olhão e até lhe tinha proposto realizar um pequeno “safari” para descobrir estas performances artísticas que nos aguardam nos muros da cidade. Ora, na traseira da antiga fábrica de conserva, perto do novo Pingo Doce, estão a realizar uns murais impressionante em tons de cinzento e negro sobre a história da indústria conserveira em Olhão.
Dá-se especial destaque ao papel da mulher, que durante várias gerações, trabalhou nesta indústria acomodando em conserva os peixes que os seus filhos, irmãos e marido pescavam em alto-mar. Os murais ainda estão a ser terminados, mas vale a pena dedicar alguns momentos a observar o trabalho minucioso dos artistas. Michelangelos da pós-modernidade.
Murais e graffitis de Olhão, Arte Urbana que venera a tradição da cidade
Joana conduz-nos agora ao Largo da Fábrica Velha, onde começa o circuito das Lendas de Olhão e o labirinto das ruelas, becos e pracetas que tornam esta cidade apaixonante. Conta-nos a Lenda de Marim com os olhos incendiados e as mãos crispadas de emoção. Depois, conduz-nos serena pelas fachadas de outrora, acaricia as ferragens das portas, os cortes irregulares dos azulejos, chama-nos a atenção para as platibandas – os frisos na parte superior das casas tradicionais, que mais do que alindar a fachada serviam como demonstração de riqueza-. Joana Martins faz esta cidade, estas ruas e estas casas dormidas ganharem vida. Ali, mostra-nos um exemplar de arquitetura cubista, mais à frente a Igreja da Nossa Senhora dos Aflitos, acolá uma fachada enriquecida com pormenores de estilo senhorial do século XIX. Vamos galgando passeios e comendo a cidade a bocados.
Numa parada no Museu Municipal do Compromisso Marítimo, mergulhamos na História da cidade e descobrimos uma peça de vestuário muito singular, o Bioco. Esta capa negra de corpo inteiro com capuz, era usada pelas mulheres portuguesas desde o século XVII, mas terá sido proibida pelo Governador Civil de Faro em 1892, porque ocultava a identidade do individuo que a utilizava.
Atum no Bioco
Esta capa de aspeto sinistro é a peça de puzzle que desencadeia a nossa próxima paragem gastronómica. A tudo isto, já são as 12:15 e o estômago requer comidinha de prato. Joana leva-nos até ao restaurante “Bioco” de ambiente tradicional, onde João, gastrónomo e músico de coração, nos serve um digno exemplar de “Atum à Algarvia”. Veio uma majestosa posta de atum fresco refogado com alegria em pimentos verdes, vermelhos, cebolas, louro, azeite e salpicado generosamente com coentros. Talvez fosse da fome do passeio ou do talento da cozinha, mas cada lasca de atum soube-me a paraíso.
Atum à Algarvia no Restaurante Bioco
Para pena minha, não ficámos muito tempo no “Bioco” e enveredámos novamente pelas ruelas da cidade. Muitos dos edifícios antigos estão a ser recuperados segundo a traça original. De acordo com Joana, nos últimos dois anos, muitos turistas franceses e italianos têm-se apaixonado pela zona antiga de Olhão e estão a comprar casas para recuperar. A cidade vê-se vibrante e de alma nova, mas ainda existem, tesouros imobiliários à espera de quem os quiser descobrir. Eu encontrei uma casa líndissima que literalmente “falou comigo” e me sussurrou palavras de amor. “Sim”, respondi-lhe, “eu adoraria que fosses minha…”.
A Polvaria
Depois de passearmos pelas cinco lendas da cidade, rumamos a uma nova experiência gastronómica. A Polvaria. Como o nome indica, trata-se de um restaurante especializado em polvo, que recupera o receituário tradicional da aldeia próxima, Luz de Tavira. Degustámos com absoluto prazer uma “Vinagrete de polvo” e uma tempura intitulada “Polvo à Malandro”.
O polvo estava tenríssimo o que me fez perguntar à cozinheira o segredo da cozedura, porque, convenhamos o meu fica sempre duro que nem sola de sapato. Sim, eu congelo-o antes de cozer. Sim, eu ponho-o na panela de pressão com uma cebola. Sim, eu uso água do mar. Sim, eu faço a dança da chuva à volta do polvo, mas nada, duro, duro, duro. “Escaldá-lo três vezes em água a ferver e depois cozer em lume brando durante 40 minutos”, confessou-me ao ouvido. Assim, de simples.
Polvo de mil e uma maneiras no restaurante Polvaria em Olhão
Fachadas e portas senhoriais do Séc. XIX em Olhão
Clube Naval de Olhão
A nossa visita gastronómica está longe de acabar e Joana leva-nos até à próxima surpresa. Agora acercamo-nos do porto, caminhamos entre barcos de pescadores e pequenos veleiros da escola de vela até chegarmos ao “Clube Naval de Olhão”. Recém remodelado e com nova direção, este é um dos segredos mais bem guardados para comer peixe grelhado em Olhão. As mesas (simples, de plástico e toalhinha de papel) ficam encostadas à água. Há também uma esplanada mais fina e uma zona interior, mas eu fiquei apaixonada pelas mesas marítimas.
O “Clube Naval de Olhão” está a ser explorado por Bento Algarvio, pugilista e desportista de renome, que se aventurou recentemente nas lides da restauração. Trazem-nos um delicioso prato de gambas com molho de laranja e piri-piri, com pão alentejano e regado com vinho branco regional, o Al-Ria. Por favor, podem ficar com as gambas, mas deixem-me esse molho que é de limpar com o pão até à última gota. Eu fiquei deliciada e as minhas (agora amigas) turistas americanas entraram em êxtase. Neste momento, o deslumbre pela cidade, o património, o estilo de vida, o sol, o mar e a gastronomia fizeram aquelas senhoras de meia idade, começar a sonhar com uma vida nova em Olhão, plena de novas sensações…
Gambas com molho de laranja e piri-piri no Clube Naval de Olhão
A gelataria mais antiga de Olhão
O relógio estava quase a dar as 14:30, quando Joana nos acompanhou até ao último lugar do “Tour da Ria”, a gelataria Gelvi, no mercado de Olhão. Esta é uma das gelatarias mais antigas da cidade, em funcionamento desde 1951 e para além dos sabores tradicionais, tem também uma seleção de sabores típicos algarvios. Provámos o gelado de Don Rodrigo e o de Figo. E assim terminou, entre volúpia láctea, este maravilhoso passeio pelo património da cidade de Olhão.
O preço por pessoa é de 75 euros e inclui a comida e a bebida consumida durante todo o passeio. Acho que ficou clara a minha admiração por esta iniciativa de António Guerreiro e Joana Martins, dois jovens determinados a mostrar que o Algarve não é só praia e que existem muitas experiências sensoriais por descobrir… Bravo.
Gelado de Don Rodrigo na Gelataria mais antiga de Olhão
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