Admiro os surfistas. A sua eterna paciência à espera da onda. O equilíbrio na prancha. O cansaço e a esperança. As ondas que lhes rebentam na cara e aí persistem, impávidos, à espera da próxima, olhos no horizonte. De repente ela chega e com um golpe de adrenalina o corpo levanta-se da prancha, equilibra-se e por momentos, o homem já não é homem. Transforma-se. É um deus, que desliza sobre as águas e que sente a enorme felicidade de ser livre. Depois volta a cair, como Ícaro queimado pelo sol. O surfista rola, desconjunta-se com a espuma e a corrente, mas volta à tona. E sorri. A próxima onda, ou pelo menos a ideia dela, já se desenha no horizonte.
Aprende-se muito da vida ao observar os surfistas. Aprende-se a não desistir. A enfrentar os nossos medos, sejam eles castelos de espuma ou ondas gigantes.
Fui à procura dessa inspiração num dos sítios mais mágicos da Costa Vicentina: Arrifana. Trata-se de pequena aldeia aninhada entre penhascos e encostas verdes que descem abruptamente até ao azul do Atlântico. Amada por pescadores, surfistas e pessoas que procuram a paz do mar, Arrifana não é mais que um punhado de casas, alguns restaurantes, hostéis, campos de surf, uma Pousada da Juventude, uma Associação de Pescadores, um portito de mar, caravanas e pães de forma.
Em todo o lado ouve-se o rugir do mar. Sente-se a liberdade e cheira a sal e a vento.
As pranchas de surf, vêm às cores e conversam em várias línguas europeias. Quando não estão no mar desafiando as ondas, sentam-se a apanhar sol na praia ou a tomar uma Super bock num dos bares de praia. As pranchas vêm em vários tamanhos. Umas para profissionais, outras para amadores que agora acabam de começar num dos cursos intensivos oferecidos por uma das várias escolas de surf de Arrifana. Existem também pranchas pequeninas. São as de brinquedo que animam os filhotes e as eternas namoradas dos surfistas que aguardam na praia com o olhar perdido no horizonte.
De novo, aprende-se muito com os surfistas. Mas também com as suas famílias que ficam em terra, durante horas, à espera e não desesperam. Arrifana é céu. É mar. É liberdade. É paz.
Depois de uma caminhada revigorante com os pés descalços na areia molhada da praia subi à aldeia. Andei curiosa a descobrir as casas e os caminhos. A estrada levou-me até à fortaleza. Aí a vista majestosa sobre o grande oceano é de cortar a respiração. Lá em cima, perdem-se as horas e os problemas ao descansar a alma na linha azul do horizonte.
O Paulo, gastronomia sobre a falésia
Aí estava “O Paulo”. Um restaurante que abriu com novo conceito há cerca de dois anos. Está mesmo ao lado da muralha da fortaleza e espia as marés desde o ponto mais alto de Arrifana. Aí os produtos do mar são reis. O Sr. Paulo enquanto andou emigrado na Holanda sonhava com o seu Algarve. Quando pôde voltou para abrir esta pérola da gastronomia marinha.
A seleção de mariscos e frutos do mar demonstra a fertilidade dos nossos mares. Os peixes frescos são grelhados com primor. Mas a especialidade da casa são os guisados de peixe e marisco: as cataplanas, a massadas, os arrozes de tamboril ou de lingueirão. Sente-se que os produtos usados para além de frescos, são autênticos. O molho de tomate vem bem apurado, pela mestria da cozinha e pela qualidade dos produtos da região. Rega-se tudo com vinho branco, da colheita da casa, com uvas alentejanas da zona da Ervideira.
Come-se até não poder mais. As porções são generosas e o nosso apetite, estimulado pelo ar fresco do mar e do exercício é ainda maior. Felizmente a caminhada de volta à aldeia ajuda a fazer a digestão. E de novo o mar, azul, intenso. A beleza singular desta terra entranha-se na pele. Estamos no paraíso vicentino.
a calma e a espera…
vistas panorâmicas desde a fortaleza
seleção de frutos do mar no “O Paulo”
Essência líquida alentejana, vinho branco da zona da Ervideira.
Azeitonas, cenouras, alho, azeite e pão. Entradas simples. Autênticas.
Um pequeno Pargo grelhado com primor.
A vista sobre a falésia.
“O Paulo” o restaurante no topo resguardando a fortaleza e as marés.
Tesouro do mar: o lingueirão à moda de “O Paulo”.
O aconchegante sabor dos produtos da terra e do mar. Arroz de Tamboril e Camarão com um apurado molho de tomate, pimentos e coentros. Explosão de sabores.
Informação Útil:
Restaurante “O Paulo”
Tel. (+351) 282 995 184 / 934 975 251
Direção: Arrifana (junto à Fortaleza) Aljezur.
GPS 37º17’46” N, 8º52’23”
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